Gilcenio’s Blog

Março 2, 2010

Educação na era digital

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Gilcênio Vieira Souza

Se a escola não fizer uma revolução, as crianças vão fazê-la. O alerta feito por Seymour Papert em 2001 é uma realidade, mas, infelizmente, ainda há escolas e professores que fingem não ver que pararam no tempo. Com isso, estão condenando crianças e jovens à exclusão, rotulando-os como os que “não querem nada com a vida”, quando, na verdade, quem não quer nada com a vida é esse tipo de escola, baseada em um ensino artificial e que ignora ou finge ignorar as “conexões” que nossos alunos fazem todo santo dia, entre o que devem aprender, os artefatos tecnológicos de que dispõem ou têm acesso e a realidade midiática com a qual se defrontam.

Infelizmente – é triste dizer isso – já conheci adolescentes que abandonaram a escola por supostamente não quererem nada com a vida… E queriam, ah como queriam… Queriam tanto que iam à escola em um turno diferente daquele em que estudavam para freqüentar o laboratório de informática… E lá se empenhavam com tal dedicação que nem pareciam os diabinhos com que eram comparados. Havia um interesse sincero: o envolvimento com o computador lhes possibilitava aprender com prazer e encontrar sentido no que faziam, interagindo com o “mundo real” – expressão que soa redundante, mas cujo uso aqui só evidencia o artificialismo da escola em seu mundinho de notas, avaliações que não avaliam e outros absurdos.

Quando o laboratório de informática deixou de funcionar por algum tempo, cumpriu-se o prognóstico de alguns professores e aqueles adolescentes deixaram de ir à escola, passando a compor o exército de evadidos…

Posso citar outros exemplos, como o do garoto que evitava a matemática, mas que diante de uma simples animação/simulação de expressões numéricas em computador passou a simpatizar com os números e sua ciência…

Sou testemunha ocular dessas situações e dos benefícios que as Tecnologias de Informação e Comunicação trazem para a educação quando integradas ao currículo escolar e a uma pedagogia ativa, com links na realidade social e no dia-a-dia dos alunos.

Nossos alunos usam celular, mp3, mp4, iPod, pendrive, câmera digital… como podemos orientá-los para o uso pedagógico desses artefatos, possibilitando apreender a realidade e transformá-la pela ação educativa?

O professor pode orientar os alunos a realizarem entrevistas entre eles e com outras pessoas sobre temas de estudo, gravarem no celular/mp3/mp4, editá-las em programas como o Audacity ou o Movie Maker e transformar em podcasts, disponibilizados em blogs. Pode ser feito o mesmo para a criação e edição de arquivos de vídeo, que podem ser postados em blogs ou no YouTube e compartilhados como links pedagógicos para a comunidade escolar.

A produção audiovisual pode fazer parte de uma ideia mais complexa, como um jornal (impresso e em rede) ou a criação de um projeto para a preservação da memória social (da escola, da comunidade, de uma categoria profissional).

Os professores da área de linguagens e códigos podem criar blogs com podcasts, vídeos e textos para incrementar o aprendizado da língua, proporcionando autonomia aos alunos para que façam o mesmo e se sintam senhores da própria voz.

A criação de apresentações em programas como o Impress ou o Power Point e a publicação na web (nos blogs da wordpress é possível disponibilizar esse tipo de arquivo) permite o compartilhamento e o aperfeiçoamento da organização didática de determinados temas, que podem ser explorados em debates e seminários.

De uma maneira democrática, dialógica e colaborativa, o professor pode criar suas aulas e postá-las na web (o Portal do Professor possui uma interessante ferramenta de criação e publicação de aulas), com a possibilidade de alunos e professores interagirem e opinarem sobre as aulas publicadas.

Páginas e páginas poderiam ser escritas com o detalhamento de como a escola proceder na integração de mídias e tecnologias…

Se a escola adota essa perspectiva, como filosofia e inspiração coletiva, são grandes as chances do sucesso escolar: da escola, como instituição com raízes fincadas na comunidade (local e global), dos professores, com auto-estima suficiente para afastar o burnout e se considerarem responsáveis pela disseminação da esperança num mundo melhor, dos alunos, como protagonistas, produtores culturais, e, de fato, cidadãos críticos e autônomos.

Março 1, 2010

Compondo o cenário digital

Nessa postagem disponibilizo uma apresentação produzida para o curso “Mídias na Educação” sobregilcenioapresentacao os desafios da educação diante do novo cenário digital.

Ubiquidade educacional X grande irmão

Filed under: Uncategorized — gilcenio @ 1:19 am
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A ubiquidade parece representar o resultado mais óbvio da evolução tecnológica: “os computadores irão se tornar máquinas integradas e ocultas, presentes no ambiente natural do ser humano” (Andrade, 2009), invisíveis, mas em qualquer lugar à nossa volta, como previu o profeta da ubiquidade, Mark Weiser (Weiser, 1991).
Essa realidade está cada vez mais presente nos dispositivos móveis, como o GPS e o celular, e nos “lugares digitais”: nas grandes cidades, “os tradicionais espaços de lugar (rua, praças, avenidas, monumentos) estão, pouco a pouco, transformando-se em espaços de fluxos, espaços flexíveis, comunicacionais” (Lemos, 2004).
Se, por um lado, essa tendência possibilita uma interação mais inteligente e imediata entre o ser humano e a polis, por outro lado, transforma em coisa concreta o olhar vigilante do “grande irmão” de Orwell. De fato, o grande irmão já está (oni)presente na Internet: o meu acesso à rede mundial de computadores gera um IP (Internet Protocol), endereço que indica o “local” da minha máquina. Cada url que digito, a cada consulta ao Google, a cada cadastro em um site, estou fornecendo informações que dizem quem eu sou: meus gostos, preferências e até mesmo o tempo total que passo na web.
Nas metrópoles, os cidadãos estão sob a constante vigilância de milhares de câmeras. Além disso, sistemas cada vez mais inteligentes passam a definir a relação do cidadão com a cidade. “A cidade invasiva ou perversa compreenderia então um ambiente onde a massificação dos objetos digitais no cotidiano permitiria a invasão da publicidade e a divulgação das nossas vidas privadas” (Leite, 2008). Assim, “manter a privacidade pessoal numa sociedade ubíqua será altamente complexo e quase impossível” (Gadzheva, 2008, apud Mídias na Educação, Convergências das Mídias, Mobilidade e ubiquidade).
Contrapor-se a essa realidade requer mais que uma ética, mas um projeto social de uma educação ubíqua, “que pressupõe apropriação e uso social” (Lemos, 2004) da tecnologia para a ação e que reverta a dupla perda de identidade a que estamos expostos: a de portadores de “chips invisíveis”, acessíveis ao olho do grande irmão, e de comportamentos indiferenciados que garantem a primazia do “modelo” Homer Simpson como expressão da alienação midiática.
Assim, a ubiquidade deve revelar-se uma experiência positiva:
(…) Do ponto de vista da memória dos lugares, podem ser ampliadas as capacidades de reunir questões locais em torno do um imaginário coletivo, da transmissão de saberes, do conhecimento passado de geração em geração, da promoção de uma identidade e da participação civil (Leite, 2008).
Contudo, “faz-se necessário, no entanto, evitar que os lugares de ubiquidade se submetam às dinâmicas econômicas e comerciais, cujos interesses transformam a percepção estética e a apreensão afetiva do lugar” (idem).
O desenvolvimento de uma educação ubíqua passa pela efetivação da escola integral e pela integração invisível da educação à vida social. Weiser (1991) destaca a escrita como uma tecnologia ubíqua nos países industrializados, lembrando-nos da grande responsabilidade educacional (política) das nações com elevado número de analfabetos, como o Brasil. Dessa forma, a ubiquidade educacional só pode ser realizada a contento após um esforço consciente de “visibilidade” das tarefas educacionais pendentes, como a garantia do acesso à escola, a permanência nela e o sucesso escolar.
Moll (2009) estabeleceu importantes reflexões que convergem para a ideia que temos de uma educação ubíqua:
A cidade precisa ser compreendida como território vivo, permanentemente concebido, reconcebido e produzido pelos sujeitos que a habitam. É preciso associar a escola ao conceito de cidade educadora, pois a cidade, no seu conjunto, oferecerá intencionalmente às novas gerações experiências contínuas e significativas em todas as esferas e temas da vida (Moll, 2009, p. 15).
A ubiquidade educacional é uma utopia possível, no marco da ubiquidade como processo social. Nas palavras de Moll (idem):
Pensemos ainda na escola em meio a um processo que imbrica os saberes que “circulam” nas praças, nos parques, nos museus, nos teatros, nos cinemas, nos clubes, nos espaços de inclusão digital, nos movimentos em favor dos direitos humanos materializados na proteção das mulheres, das crianças e dos jovens (ibidem, p. 15).
Tratar a ubiquidade nessa perspectiva é afirmar “um novo humanismo, através da conversão da vida quotidiana na cidade em obra, apropriação e valor de uso” (Sousa, 2009), embutida nessa visão uma ética de respeito aos direitos do cidadão e de construção de uma educação com tendência a ocupar os lugares públicos invisivelmente.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, Luiz Adolfo de. Apresentação do texto de Mark Weiser (1991). Disponível em: http://www.andrelemos.info/midialocativa/2008/09/apresentao-do-texto-de-mark-weiser-1991.html. Acesso em 16 fev 2010.
GADZHEVA, Maya. Location privacy in a ubiquitous computing society. In: International Journal of Electronic Business. – Vol. 6, No. 5 pp. 450 – 461. 2008. Disponível em: http://www.inderscience.com/search/index.php?action=record&rec_id=21181&prevQuery=&ps=10&m=or. Acesso em 17 fev 2009.
LEITE, Julieta. A ubiqüidade da informação digital no espaço urbano. In: LOGOS 29 – Tecnologias e Socialidades. Ano 15. no. 29. UERJ. Rio de Janeiro. 2008. Disponível em: http://www.logos.uerj.br/PDFS/29/10JULIETA_LEITE.pdf. Acesso em 16 fev 2010.
LEMOS, André. Cibercultura e mobilidade. In: Razón y palabra – Octubre –Noviembre 2004. Disponível em: http://www.cem.itesm.mx/dacs/publicaciones/logos/anteriores/n41/alemos.html. Acesso em 10 fev 2010.
MOBILIDADE E UBIQUIDADE. Mídias na Educação, Convergências das Mídias. Disponível em: http://200.130.6.210/webfolio/Mod83527/etapa3/pag15.html. Acesso em 10 fev 2010.
MOLL, Jaqueline. Um paradigma contemporâneo para a educação integral. In: Pátio, Ano XIII, Nº 51, ago/out 2009.
Sousa, J. Francisco Saraiva de. Henri Lefebvre: crítica do urbanismo. CyberCultura e Democracia Online. Disponível em: http://cyberdemocracia.blogspot.com/2009/06/henri-lefebvre-critica-do-urbanismo.html. Acesso em 23 fev 2010.
WEISER, Mark. The Computer for the 21st Century. Disponível em: http://nano.xerox.com/hypertext/weiser/SciAmDraft3.html. Acesso em 17 fev 2010.

O valor pedagógico do blog

Filed under: Uncategorized — gilcenio @ 1:14 am
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O blog é um tipo de página virtual de fácil criação e uso cada vez mais comum, além de constituir um território democrático que propicia a reflexão e o diálogo. Por ser uma página que tem a identidade de um sujeito que escreve e compartilha suas vivências (posts), em interação imediata com os leitores (coments), o blog possibilita a construção de uma ágora virtual, que se efetiva no binômio: experiência democrática/criação de saberes.

O valor da narrativa pessoal, como exteriorização de uma história particular e clamor de solidariedade por outras narrativas comuns, representa uma excelente oportunidade para a construção do conhecimento. Essa fraternidade no aprender recíproco constitui uma experiência enriquecida pela franqueza dos sujeitos, pelo olhar constante para a interlocução que os motivam e pelo domínio progressivo das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) de que se fazem senhores e cúmplices, pois como afirma Prado (2005, p. 55), “o envolvimento do aluno no processo de aprendizagem é fundamental. Para isso, a escola deve propiciar ao aluno encontrar sentido e funcionalidade naquilo que constitui o foco dos estudos em cada situação da sala de aula”.

Tal perspectiva apóia-se na proposta construcionista de Seymour Papert, que valoriza o processo de aprender. Como Piaget, Papert acredita que “o conhecimento é ativamente construído pela criança em interação com seu mundo” (Ackermann, s/d). Assim, Papert “enfatiza a importância das ferramentas, mídias e do contexto no desenvolvimento humano” (idem).

Toda a comunidade escolar pode se tornar sujeito desse projeto, com a mediação do educador na multiplicação de blogs e a solidariedade de sua experiência no trabalho de construção de narrativas hipertextuais.

O blog constitui um instrumento de forte potencialidade pedagógica, requerendo, para tanto, redefinir a práxis em bases éticas, democráticas e colaborativas e por meio da escritura permanente das narrativas das experiências de educandos e educadores. A cultura do blog deve, assim, ser disseminada na escola, como um exercício coletivo da comunidade escolar.

A atividade coletiva representa um esforço essencial para dar significação à escola e, para isso, nada melhor que o trabalho de e sobre a escrita, fazendo das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) um suporte fundamental para o sucesso do processo de apreensão de saberes e de intervenção crítica no mundo.

REFERÊNCIAS:

ACKERMANN, Edith. Piaget’s Constructivism, Papert’s Constructionism: What’s the difference? Disponível em:
http://learning.media.mit.edu/content/publications/EA.Piaget%20_%20Papert.pdf.
Acesso em: 10 out, 2009.
PRADO, Maria Elisabete Brisola Brito. Articulação entre áreas de conhecimento e tecnologias. Articulando saberes e transformando a prática. In: ALMEIDA, Maria Elizabeth Bianconcini de, MORAN, José Manuel (org.). A Integração das tecnologias na educação. Brasília: Ministério da Educação, SEED, 2005.

(Sem título)

Filed under: Uncategorized — gilcenio @ 1:11 am
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Quando criança, ela tinha traços indígenas. Hoje, a pele negra se destaca.
O primeiro estrangeiro que a encontrou, brincando entre palmeiras, considerou-a amável, pacífica, digna. Mas essa doce impressão se desfez quando outro homem, também estrangeiro, invadiu a sua casa, chutou os seus brinquedinhos de ossinhos de pequenos animais e sabugos, e abusou da pobrezinha sem o menor escrúpulo.
Mas não parou aí. Outros homens continuaram a violentá-la com sordidez e escárnio. E, cedo cedo, ainda menina, viu-se prostituída, enquanto ia vivendo entre esmolas e violências. Já não tinha mais o olhar lívido de uma criança imaculada e o corpo exibia cicatrizes, marcas de violações e gravidezes não escolhidas.
Cresceu entre a sarjeta, a piedade pública e a exploração privada do seu corpo e sua alma, até transformar-se nessa presença fantasmagórica.
Hoje saiu à rua e recebeu a atenção (mas por razões diversas) que só recebia quando era uma jovem apta ao trabalho braçal: saiu à rua e começou a vomitar; e o que parecia um vômito comum, logo se revelou bem diferente, pois regurgitava não restos de comida, mas os próprios órgãos e outros constituintes internos do corpo: rins, dentes, costelas…
Por isso que os vizinhos e até moradores de mais longe lhe emprestam tamanha atenção, pois jamais tinham visto tragédia pessoal tão estranha e tão intensa, a de um pobre ser a vomitar-se destrutivamente, deixando à mostra pedaços seus que antes lhe eram tão vitais, vísceras e partes que compõem a constituição de toda e qualquer pessoa, expostas nas ruas, regurgitadas ao faro faminto dos cães.
Está vindo o socorro, mas há danos irreversíveis e a alma está arrasada.

Pobre Haiti.

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